Insanidade

Por que te punes homem?
Encarcerado estás agora em sua casa,
suando e enlouquecendo detrás de portas e janelas fechadas
enquanto as cortinas cerradas te impedem de ver
que lá fora o sol continua a brilhar,
namorados apaixonados trocam juras de amor na praça do bairro
enquanto você isolado em seu quarto
escreve notas de suicídio que tem vergonha de publicar,
os bares estão repletos de amigos brindando à felicidade
e você aí sozinho se envenenando com vinho vagabundo
só com um maço de cigarros pra te acompanhar,
todos que fizeram parte do seu passado estão seguindo em frente,
construindo um futuro, enquanto você,
sem nem mesmo saber que dia é hoje
está com a vida estagnada, a se lamentar,
pois saibas que hoje é domingo,
famílias lotam as casas das mães e avós para almoçar
enquanto você, em sua obsessão de solidão,
sequer percebe que está há dois sem se alimentar,
gaivotas voam sob um céu azul, sobre um mar azul
ao mesmo tempo em que você, sobre a sua cama
fita o teto branco sem conseguir se levantar
e lá fora, no horto ao lado de sua casa,
borboletas pousam nas flores e acariciam suas pétalas,
enquanto você, em sua loucura, pesa o botijão de gás
para se certificar de que há o suficiente para se matar.
Ainda não percebestes homem?
Você pode tentar da vida fugir bebendo até desmaiar,
mas sabe que em algum momento irá acordar
e sua realidade novamente terá de encarar,
pois por mais que chores, se martirize ou se automutile
o que passou você não pode mudar,
as cicatrizes que infligiu ao seu coração tu não podes apagar
e mesmo que elas não o deixem mais bater como outrora
e mesmo que você não queira, ele continua a pulsar.
Não sejas tolo homem, tu se prendes nessa casa,
cerra-se em ti mesmo
mas não percebes que justamente de ti
que precisas escapar.